quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Humor Infantil 2
























Mais dois desenhos de humor feitos por crianças. Em sua casa, Arthur lê e desenha história em quadrinhos com frequência. De maneira intuitiva já traz o domínio da linguagem. A novidade foi aprender como, e qual a razão, de se fazer um roteiro. Esse tipo de informação só é repassado quando sinto que há espaço e disposição por parte da criança... e no caso do Arthur acertei em cheio. Não é muito comum uma criança de oito anos demonstrar interesse por isso, uma vez que o roteiro é a racionalização do quê e como desenhar uma história em quadrinhos. Dependendo da criança isso pode ser um desastre. Com um jornal na mão aproveitei para mostrar a diferença entre tira (geralmente com dois, três ou quatro quadrinhos), e a história em quadrinhos propriamente dita e suas narrativas mais longas.Talvez estimulado pelo jornal que mostrei, com tiras cômicas do Laerte, Angeli, Caco Galhardo e outros, a historinha inventada pelo Arthur também acabou sendo de humor: Dois meninos. Um fotografando e o outro sendo fotografado. O fotógrafo diz:
- Olha o passarinho!!!
Por trás vem uma enorme águia e carrega o modelo. O fotógrafo diz:
- Eu avisei !
O roteirinho surgiu de pronto, depois de descartar outra ideia que era de fazer um garoto que encontrou um abacaxi na rua e vestiu na cabeça, como uma coroa. Andando pela rua cruzou com outro garoto que vinha comendo um abacaxi. Os dois pararam, frente a frente, e ficaram com cara de dúvida. Nas duas historinhas já surge um elemento primordial pra se fazer rir: a reversão de expectativa. Essa “sabedoria” é outro elemento que o Arthur já traz com ele, é daquelas coisas que não se aprende na escola...
O outro aluno é o Bernardo, de sete anos. Ele está em sua terceira aula aqui no Garatuja. Ainda não conheço bem seu potencial e suas limitações em relação ao desenho. Isso é um dado fundamental: conhecer a criança e saber lidar com esses limites. O aprendizado, e mesmo o aprimoramento gráfico vem dessa informação. Conhecendo melhor cada criança sei perfeitamente quando “cobrar” um capricho maior, ou mesmo quando deixar totalmente solto em sua criação, interferindo o menos possível. Aqui cabe uma observação. Em geral a segunda opção é sempre a mais acertada, e nesse caso sou eu que aprendo com a criança. Foi o caso do desenho do Bernardo. Como eles fazem aula juntos, tudo o que passei pro Arthur serviu pro Bernardo. A explicação sobre como fazer um roteiro ele ouviu com atenção e logo inventou sua história. A primeira ideia era alguma coisa relativa a uma mulher gorda e situações com forte teor de violência. Com jeito fui levando o Bernardo a refletir sobre sua história e o que aquilo representava. Será que uma mulher gorda iria gostar daquela história? E todas aquelas lutas e sangue? Será que não dói quando sai sangue de alguém? Claro que, para a criança, toda essa informação é lúdica e elas não possuem a mesma intenção do adulto. Acho mesmo que, às vezes, é necessário deixar a criança se expressar dessa forma, mas nesse caso a reflexão foi importante e a mulher gorda da história virou uma mulher comum que entrou num restaurante e pediu trinta garrafas de coca cola de um litro. Depois de beber tudo ficou barriguda e encontrou com outra mulher que olhando pra sua barriga perguntou:
- É bebê?
E a mulher respondeu:
- Não, eu bebi!
Para qualquer adulto essa historinha acabaria por aí, mas para o Bernardo o último quadrinho era o mais importante. Nele a mulher ficava entalada numa porta dizendo:
- Não consigo! (passar pela porta).
Digo que aprendi com o Bernardo porque ele me lembrou, em primeiro lugar, que o ato de desenhar tem de ser uma grande diversão, sempre, tanto pra criança como para o adulto, e isso ficou muito claro observando seu sorriso enquanto desenhava a “carona” enorme e o umbigo de fora da mulher barriguda. Outra coisa foi perceber que a criança já traz, intuitivamente, elementos estéticos que julgava fruto da elaboração do adulto. Como por exemplo, a sacada do Bernardo em utilizar os próprios limites do quadrinho para expressar a imagem da mulher entalada na porta, no melhor estilo Pat Sullivan, desenhista do Gato Felix e referência quando o assunto é a metalinguagem nos quadrinhos. E por fim um reconhecimento a sua inteligência: uma mulher entalada numa porta é realmente muito mais engraçado que uma mulher barriguda ser confundida com mulher grávida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário